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27/Fev/2021 - 22:23:34
Manicômios XXI
RedaçãoGUILHERME LISBOA MORGAN
A figura do louco não é de estranheza para a história da
humanidade, já no período clássico se tem esboços de relatos do fenômeno da
loucura. Foucault (2008) em seu livro "História da loucura" elucida
que na idade média era comum atribuir ao louco um lugar ímpar, o qual possuía
dizeres únicos que mais ninguém podia enunciar. Porém, com o passar dos anos,
ocorreu a expansão do sistema capitalista e estas verdades que antes eram
ditas, passam a ser ameaças frente à lógica selvagem. Então, no ápice da razão com Descartes os
manicômios aos poucos tomam os lugares dos antigos leprosários e disseminam
discursos hierárquicos e enclausuradores sobre os chamados Pobres (ociosos,
prostitutas, doentes venéreos, homossexuais, feiticeiras, magos, presidiários e
os chamados loucos), em síntese as práticas repressoras se dirigiam aos que não
se encaixavam no modelo sócio-político-econômico da época. Estas instituições
tinham por objetivo corrigir as chamadas falhas morais utilizando de
terapêuticas punitivas, desumanas e violentas. Contudo e para além, os
aprisionados rendiam capital por sua internação e eram tidos como uma
oportunidade de mão de obra barata frente a economia abatida do período.
Com a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial, muros foram sendo derrubados, manicômios fechados, porém, permaneceu uma lógica, a manicomial, que perpassa as relações até os dias atuais, muito atrelada com os ideais capitalistas de sociedade, pautando-se em docilizar subjetividades, que em outras palavras pode-se dizer em imposições de padrões existenciais sobre um outro, utilizando de práticas de adestramento repressoras que anulam e silenciam as verdadeiras pulsões e desejos do ser.
Desta forma, não é difícil olhar para a sociedade do século XXI e distinguir no dia-a-dia atitudes manicomiais, uma vez que, o preconceito, a intolerância, o desrespeito são palavras de destaque diariamente nos jornais, seja no campo da educação, trabalho, saúde, família, relacionamentos amorosos, entre outros.