A imprensa e alguns políticos têm acusado o presidente da República de "negacionista"; na verdade, não me lembro de ver a mídia usando tanto esse adjetivo como agora. Conforme o dicionário Houaiss, negacionista é a pessoa que se identifica com o negacionismo, ideologia de quem nega um fato comprovado e documentado ou analisa esse fato a partir de argumentos ou opiniões não fundamentadas em verdades históricas; pessoa que nega ou não aceita como verdadeiros conceitos comprovados cientificamente; indivíduo que nega a veracidade de alguma coisa ou coloca em perspectiva a sua veracidade.

Conforme a psicóloga Sônia Pittigliani, atualmente vivenciamos uma crise da verdade, que abre espaço para o negacionismo e coloca em xeque conhecimentos básicos já comprovados pela ciência. �? preciso cuidado ao aceitar ideias que parecem verdades, mas não passam de conceitos do senso comum, sem nenhuma comprovação científica ou da História. Mestres em construir argumentos sem fundamentação são os "mercadores da dúvida", que criam teorias da conspiração para explicar o inexplicável e conseguem convencer os mais incautos.

A teoria negacionista é uma antiga estratégia de minar conceitos científicos, aplicada, conforme a autora, nos Estados Unidos, em 1950, quando a indústria de tabaco precisava convencer o público de que as evidências científicas que ligavam o tabaco ao câncer eram falsas, então foi desenvolvido um manual de relações públicas, cujo objetivo era instalar a dúvida na mente das pessoas.

Pittigliani fala do fenômeno da pós-verdade, ou seja, quando os fatos comprovados cientificamente passam a ter menos influência do que as crenças pessoais na opinião pública sem fundamentação e esse fenômeno é o sintoma extremo dessa crise.

Freud definiu essa ideia de negação como um mecanismo de autodefesa, que busca reduzir qualquer manifestação que coloque em risco a integridade do Ego dos sujeitos. Os negacionistas são pessoas que não conseguem enfrentar os fatos que julgam ameaçadores, nem são capazes de reconhecer quando estão enganados; são mestres em atribuir a culpa de insucessos aos outros.

Esses indivíduos buscam, com a atitude de negação, evitar a realidade em que vivem. �? uma reação típica de pessoas que não querem lidar com situações que geram incertezas e essa conduta tem origem na angústia, recusando-se o negacionista a reconhecer o problema que está acontecendo. Esses indivíduos agem como se nada tivesse ocorrido, comportando-se de maneira confusa, o que leva os outros a julgarem esse comportamento insensato. Essa negação resulta num alto custo socioemocional a eles e aos outros, custo que se traduz na prepotência e na intolerância, que levam ao obscurantismo das crenças e superstições.

Os negacionistas estão convictos de que são os "buscadores da verdade" e rejeitam ou negam o conhecimento, por ele ser inconveniente para as suas crenças e fantasias. Esse negacionismo revela posições autoritárias e preconceituosas e o mecanismo de negação, enquanto defesa inconsciente do indivíduo, é passível de tratamento terapêutico.

Triste é constatar que, em pleno século XXI, profissionais ainda se defrontam com esses processos de desinformação, com a confusão entre fato e ficção, com mentiras que se tornam verdades. Mais triste ainda é um país liderado por negacionistas em plena pandemia e estados governados por oportunistas que se aproveitam da situação, já com olhos nas próximas eleições presidenciais!

Triste mesmo, nestes tempos sombrios, é ser brasileiro e não ter orientações corretas apoiadas por todos os governantes, não ter vacinas suficientes, salários dignos, estar desempregado e sofrer com sucessivos aumentos de combustíveis, gás de cozinha, alimentos e remédios...

Desesperador é, em meio ao caos, ver as pessoas preocupadas com quem vai ser expulso do BBB, ou quem vai ganhar o campeonato brasileiro de futebol! Mas... isto é Brasil, e do jeito que se encontra a Educação, o que esperar do futuro?