São José do Rio Pardo, ,

17/Abr/2021 - 14:03:11

Preconceito amarelo: o mito da minoria modelo

Redação

LETÍCIA KAORI HANADA




Quem nunca ouviu frases como "Para entrar na USP tem que matar um japonês" ou ainda "Se tem um japonês na sala, já pode desistir"? Essas frases podem soar como brincadeira ou zombaria, mas refletem uma crença generalizada, um preconceito, que aqui chamamos de preconceito amarelo.

? necessário, no entanto, distinguir os termos "preconceito" e "racismo". O racismo contra pretos, por exemplo, se consolidou de tal maneira que existe uma categorização binária, ou você é preto ou é branco, com a falsa crença de que os brancos seriam superiores aos pretos. Nessa separação, os amarelos (até mesmo os amarelos marrons) são categorizados como brancos, portanto, o preconceito contra amarelos se faz completamente distinto do cenário de racismo contra pretos.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2017, apresenta dados que confirmam que os descendentes de japoneses recebem uma média de salário maior no mercado brasileiro. Com o passar do tempo, a percepção do Outro é a de que a grande parte da população japonesa é bem sucedida, e logo, extremamente capacitada por ter chegado a essa posição. Para além de dados econômicos, há diversas outras características atribuídas às pessoas com ascendência japonesa como "dóceis, disciplinados, domesticados e inteligentes", adjetivos que aos olhos de quem os pontua soaria como elogio, mas que reforçam um estereótipo preconceituoso, inserindo toda uma etnia dentro de uma caixinha, em que todo e qualquer indivíduo com traços japoneses possuiriam, portanto, obrigações, como de se sobressair em notas, provas e cálculos, e proibições, de não ser nada menos do que aquele modelo estipulado, não podendo cometer crimes, pronunciar palavrões ou ser demasiadamente expressivo. Quando esse modelo é alcançado por um descendente, há uma desvalorização de suas conquistas, utilizando a raça como justificativa genética para a realização de eventos relacionados ao intelecto, desmerecendo todo o esforço e tempo ali investidos com uma única frase "é claro que ele passou no vestibular, ele é japonês", e, quando esse modelo não é alcançado há outra justificativa pronta e preconceituosa de que aquele indivíduo não é japonês o suficiente ou não tem o sangue puro, por exemplo.

Nesse cenário, o estereótipo de minoria modelo afeta não apenas os amarelos, mas como diversas outras etnias, principalmente a preta, em que a branquitude defende o seu racismo anti-preto utilizando argumentos como "Vejam os asiáticos, eles também são outra raça, também vieram pobres ao Brasil e ainda assim são economicamente sucedidos, com alto nível de escolaridade, olhem e sigam esse modelo", deslegitimando uma luta extremamente importante de uma etnia que possui uma história completamente diferente da amarela, ou seja, o argumento é feito com intuito de comparar histórias que não são passíveis de comparação. Portanto, esse estereotipo, além limitar e definir um grupo de pessoas amarelas como iguais também oprime e desumaniza a realidade de outras minorias.

Além de todas essas questões, mais atualmente, no fim do ano de 2019, um vírus foi encontrado em Wuhan, na China, e se espalhou por todos os outros países dando início à pandemia de COVID-19. Com isso, o preconceito amarelo foi ainda mais escancarado quando começaram a noticiar agressões psicológicas, verbais e físicas contra corpos amarelos tanto aqui no Brasil quanto em diversos outros países, dando origem a grupos ativistas que manifestaram nas ruas frases como "Não somos um vírus" ou "O vírus é o seu preconceito".

Em suma, é sempre importante enfatizar que, assim como todas as outras etnias, os nossos traços, como a nossa cor amarela e nossos olhos puxados, são apenas uma pequena parte de nós e não nos define em nada, nossos corpos e nossas mentes são livres para serem e expressarem da forma que preferirem sem restrições impostas por um preconceito.

Respeitem as diferenças, independente da origem de cada etnia e se esforcem para compreender a história e as dores de cada um antes de pressuposições e conclusões equivocadas.


O Riopardo - 2020/2025 - Todos direitos reservados