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19/Jun/2021 - 17:54:53
Antonieta de Barros, um exemplo
RedaçãoTHAÃS NOGUEIRA
Há oitenta e sete anos, Antonieta de Barros estremecia as estruturas da política brasileira dando início ao seu mandato parlamentar popular na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Foi a primeira mulher negra eleita na história brasileira (1934), trazendo consigo a luta pela emancipação feminina e a garantia de educação para todos. Rompia, assim, o histórico hegemônico da política, até então composto por homens, brancos, dotados de um certo poder aquisitivo, que legislavam ao toque dos coronéis.
Apesar dos oitenta e sete anos passados, nossa sociedade continua a reproduzir os "pioneirismos" do início do século XX. São José do Rio Pardo, por exemplo, possui uma Câmara com cento e trinta e cinco anos de história. De 273 vereadores que passaram pela casa legislativa, apenas 7 foram mulheres, contando comigo, sendo duas negras. E neste quesito é muito ruim ser a exceção.
Mesmo depois de tanto trabalho daquelas que nos antecederam, ocupamos o 154º lugar entre 193 países do ranking que aponta o contingente de mulheres parlamentares, elaborado pela associação Inter-Parliamentary Union, instituição francesa fundada em 1889, que visa intermediar conflitos parlamentares entre países detentores de uma política soberana.
?s vésperas de assumir o mandato, em janeiro de 2021, recebemos várias mensagens desejando sucesso e coragem e, em todas elas, as pessoas se mostravam surpresas por estarmos eleitas e dispostas a fazer política.
Fomos (Mandato Coletivo) recebidas gentilmente em todos os lugares que agora podemos ocupar, fomos ouvidas e participamos de discussões importantes. Tudo isso, sem nunca deixar de perceber o olhar de espanto das pessoas, que agora dividem estes espaços com duas mulheres como nós. Pretas, jovens e, assim como Antonieta de Barros, pactuadas com o poder popular.
Por que mandatos como o nosso ainda representam "novidade" no cenário político brasileiro?
Onde estão as mulheres e mulheres pretas senão na política?
Onde nós, como sociedade, estamos falhando?
Qual a Missão do Mandato Ativista e da sociedade rio-pardense?
Quando acontecerá?
Em um texto para "O Jornal República", Antonieta nos entrega a equação: "Talvez cedo, talvez tarde. Será, contudo, quando houver bastante cultura e sólida independência entre as mulheres para que se considerem indivíduos. Só então, cremos existir uma civilização melhor".