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24/Jul/2021 - 21:20:36
Pescaria que foi pro saco
Felipe QuessadaMurilão pode não ser um ótimo pescador, mas curte a natureza.
Ainda sobre a pescaria em que eu e os garotos, Wilker Tavares, Murilo Soares e meu filho Felipinho, fizemos no mês de junho no rio Jacaré-Pepira, onde ouvi muitas coisas ?? e como ouvi. Mas, como diz o velho ditado: melhor ouvir do que ser surdo, então...
Entre uma cerveja e outra, uma fisgada errada, um peixe grande que escapou, um pum "perfumado" que saiu em um momento impróprio, uma ordem não acatada, enfim, quase toda a ação realizada sempre vinha acompanhada de alguma frase que geralmente usamos, porém nem sempre sabemos a sua origem e o seu verdadeiro significado.
Por exemplo, o Murilão gastou mais de uma hora para preparar sua pegadeira (vara) para iniciar a pescaria. Colocou uma enorme chumbada na linha, só que se esqueceu de passar linha por dentro dos anéis da vara, ou seja, ela não ficou presa. Com isso, ao lançar o anzol na água, a pesada chumbada acabou caindo sobre uma plantação de cana, bem longe do barco... tudo errado. Foi aí que o Wilker aproveitou para tirar um sarro do companheiro.
"? Murilão, você errou na forma de encastoar a vara, serviço feito nas coxas, colocou uma chumbada para pegar tubarão, que ficou uma budega e, se não bastasse, arremessou a linha onde Judas perdeu as botas. Vai catar coquinho e pode tirar o cavalinho da chuva, sua pescaria foi pro saco". Foi aí que Murilão irritado retrucou: "Não me enche o saco". Vamos tentar explicar estas expressões.
NAS COXAS
Nas coxas é uma expressão idiomática brasileira. Quando se diz que alguma coisa foi feita apressadamente, sem capricho e mal feita.
A expressão popular "nas coxas" vem do tempo da escravidão. Naquela altura, quando não havia forma para fazer as telhas, estas eram feitas nas pernas dos escravos, mas propriamente nas suas coxas para dar o formato arredondado da telha. Como era natural, cada escravo tinha o seu porte físico específico, o que significava que as telhas nunca saíam iguais. Desta forma, as telhas ficavam irregulares, os telhados muitas vezes ficavam desnivelados. Assim, até os dias de hoje, quando alguém cumpre alguma tarefa sem capricho, sem primor, é dito que essa tarefa foi feita "nas coxas".
BUDEGA
Uma gíria empregada para designar qualquer objeto sem valor, insignificante, reles, ou imprestável, ou ainda para exprimir um descontentamento ou irritação.
ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS
Esta expressão popular da língua portuguesa é usada para descrever um lugar muito distante, difícil de alcançar.
? difícil saber a origem exata da expressão "onde Judas perdeu as botas". Muitos autores acreditam que a expressão surgiu com a história de Judas Iscariotes, o discípulo que traiu Jesus. ? certo que a Bíblia não menciona o hábito de Judas de calçar botas, mas uma crença popular afirma que Judas teria escondido num par de botas as trinta moedas que recebeu dos sacerdotes judeus, como pagamento por trair Jesus. Quando encontraram o corpo de Judas (depois de ter se enforcado), este estava descalço, e a lenda conta que muitos tentaram encontrar as botas para ficar com o dinheiro, mas sem sucesso. Por esse motivo, "onde Judas perdeu as botas" serve para descrever um lugar difícil de encontrar, um terreno longínquo.
CATAR COQUINHO
Catar coquinho é uma expressão seria o mesmo que "vá procurar outra coisa para fazer" ou "me deixe em paz". ? uma expressão usada para afastar alguém que representa um incômodo.
Existem várias outras expressões semelhantes que têm o mesmo significado que "catar coquinho", como: "vai tomar banho", "vai ver se eu estou na esquina", "vai enxugar gelo", "vai encher pneu de trem", "vai pentear macaco".
TIRAR O CAVALINHO DA CHUVA
"Tirar o cavalinho da chuva" ou "tirar o cavalo da chuva", é o mesmo que desistir de alguma coisa, abandonar pretensões, perder as ilusões.
Quando alguém usa a expressão "tirar o cavalinho da chuva", significa que a pessoa não deve esperar que um determinado acontecimento ocorra.
No século 19 e até o trem de ferro alcançar o seu grande nível de popularidade, o cavalo era o meio de transporte mais prático e comum. Era um meio que apresentava muitas vantagens, e uma delas era saber quanto tempo uma visita pretendia ficar em sua casa. Quando uma visita chegava e amarrava o cavalo na frente da casa, isso significava que ela seria breve. No entanto, se levasse o cavalo para algum local mais resguardado da chuva e sol, isso significava que a visita com certeza demoraria.
FOI PRO SACO
Segundo meu avô, Felipe Quessada, que Deus o tenha em bom lugar, antigamente não existia caixões e os defuntos eram enfiados em sacos para serem enterrados ou jogados ao mar, então, "foi pro saco" é o mesmo que dizer que já morreu ou que foi enterrado, que não tem mais sentido ou mais jeito.
ENCHER O SACO
A expressão surgiu do fato de que quando as mulheres se insinuam fortemente ao homem, mas não resolvem o seu problema, o saco escrotal fica inchado e dolorido, causando grande incomodo, então, não me encha o saco.