São José do Rio Pardo, ,

31/Jul/2021 - 20:37:32

Um novo princípio para a humanidade

Redação

LEONARDO BORTOLOZZO ROSSI




Em 1951, seis anos após o término do Holocausto, e a gradual descoberta pela humanidade dos horrores causados pelo nazifascismo, Hannah Arendt publica o livro "Origens do Totalitarismo", com o intuito, entre outros, de teorizar acerca das características do totalitarismo, para que essas possam ser identificadas em qualquer período.

Nascida em 1906, na Alemanha, a vida pessoal de Arendt se entrelaça com a questão do refúgio e da apatridia, técnicas utilizadas em massa durante a 2ª Guerra Mundial. Em 1933, foi obrigada a deixar a Alemanha, depois de ser detida em virtude de sua pesquisa sobre a exclusão dos judeus das principais organizações profissionais. Teve que cruzar inúmeras fronteiras territoriais até ser acolhida temporariamente em Paris. Em 1940, exila-se para os EUA, tornando-se cidadã desse país.

Naqueles tempos sombrios, Arendt afirma que a humanidade deve ser fundada sob um novo princípio político: "A dignidade humana deve ser fundada sob uma nova garantia que pode ser encontrada apenas em um novo princípio político, em uma nova lei da Terra, cuja validade agora deve compreender toda a humanidade". E conclui que: "não é de maneira alguma certo de que isso seja possível".

E qual seria esse princípio? A responsabilidade. Para Arendt, o humano se distingue pela capacidade de ação e de discurso, baseado na nossa autonomia e intersubjetividade. Dessa forma, as comunidades humanas são a própria capacidade humana para infundir o mundo com significado e imperfeitamente moldá-lo.

A nossa pensadora identifica o nascimento da moderna democracia com o evento da natalidade, que são as condições para a existência humana. A natalidade é a capacidade dos seres humanos, através da ação e do discurso, de iniciarem algo novo que não pode ser esperado ou igual a qualquer coisa que possa ter acontecido anteriormente. Portanto, atrelado ao ser humano está a ação, a qual apenas através da sua inserção no mundo, ao falar e agir em conjunto com outros, os seres humanos são capazes de sair de sua existência natural e contestar a sua própria existência.

E sob tal contexto que se insere o princípio da responsabilidade. Apenas assim, os seres humanos se tornam políticos, em que há a possibilidade de performar o discurso em espaços públicos de ação. Para Arendt, o direito à opinião e de ação está em patamar de igualdade ou, até mesmo, de superioridade, com os de igualdade e justiça.

A ação é a condição humana da pluralidade. Está vinculada ao pertencimento em uma comunidade humana, e, também, ao sofrimento. Esse se constitui como o meu ser imerso em e afetado pela rede humana de relacionamentos. Eu sou responsável quando eu sofro as consequências dos atos da minha comunidade, inclusive aqueles atos que não participei, e quando meus atos são determinados pela própria comunidade. Minha responsabilidade está sempre em comunhão com a coletiva.

Após setenta anos, vivemos novos tempos sombrios. Embora o novo princípio da humanidade ainda não fora realizado, é imperativo que o busquemos.


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