Nos anos oitenta (do século passado), quando a conversa era em torno de se fazer uma pescaria, logo se falava no Morro Pelado, Barranco Vermelho e no Coxinho, os dois primeiros localizados no Mato Grosso e o outro no Mato Grosso do Sul, eram dias de estradas. Estes locais foram alvos da maioria dos pescadores rio-pardenses, onde fizeram histórias que até hoje são lembradas e contadas aos que se iniciam na arte de pescar.

Hoje, as coisas se tornaram mais fáceis, os rio-pardenses João Luis Orlandi, Marcos Palhares, Edinho Funileiro, Fábio Cerávalo Pikunas, Deides Ramos e Guto Mazini, tomaram um avião em Guarulhos às 7h30, com escala no Rio de Janeiro e às 18h00 já estavam bebericando várias cervejas na bonita Ilha do Jeff, localizada na represa de Balbina, no município de Figueiredo, a 170 quilômetros de Manaus.

TRAIRA NINJA

�? difícil definir um lugar no barco em que não se tenha trabalho. Para quem pilota fica a obrigação das manobras e o levanta-e-abaixa do motor. Para que fica na proa, sobra a tarefa de soltar e puxar a poita e pilotar o motor elétrico. Mas para quem fica no meio, acho que a coisa piora: é o tempo todo sendo serviçal, passando uma cerveja pra um, uma isca pra outro; e quando os companheiros fisgam um peixe grande, ele é o primeiro a ter que entrar em ação com o puçá na mão. Se o embarque for um sucesso, é logo requisitado para servir uma gelada ou uma pinga para comemorar; mas se o peixe escapar, com certeza a culpa será dele, o �??vacilão�?�.

Nessa empreitada o piloteiro pescava por cima do motor, com o Fábio no meio e o Edinho na proa. Após várias tentativas, o Edinho conseguiu, finalmente, fisgar algo que parecia ser grande e forte. Fábio questionou o sortudo: �??�? peixe ou toco�?�? E o Edinho no alto de sua experiência, dizia com certeza que era peixe, e que era uma Traira bem grande.

Passados 30 minutos (com o �??bicho�?� enlocado), o piloteiro sugeriu que tentasse provocar a presa, que soltaria a poita pra que fosse possível tirar o �??briguento�?� da loca �?? mas já tendo 90% de certeza que se tratava de um grande pau.

O Edinho, muito brabo diante da desconfiança dos parceiros e com a plena certeza que iria desenroscar de vez, resolveu trabalhar o bicho �??na marra�?�, fazendo com que a linha ficasse afinada igual corda de viola, de tão esticada. Nesse momento, quando começaram a recolher as iscas, ouviram um estampido seco seguido de uma barulhada tremenda no bico do barco. Viraram a tempo de ver as pernas do Edinho para o alto e ele caído sobre a caixa de isopor, que ficou em pedaços. Os parceiros não conseguiram conter as gargalhadas diante de cena tão inusitada. Tiveram que recolher as varas e ajudá-lo a levantar. Mas não demorou muito e voltaram as gargalhadas, vendo o experiente pescador se limpando e lamentando, porque na ânsia de pegar a �??Traira�?� ele trabalhou a vara com os punhos em direção ao peito. Conclusão: quando a linha arrebentou, ele deu um tremendo murro em seu próprio peito e revirou para trás. Minutos depois, já recuperado do desfecho da luta, Edinho discursava sem parar, afirmando que o peixe, além de ser muito grande, também devia ser graduado em artes marciais, alguma coisa parecida com um ninja.

BOM TRUQUE PARA PESCAR TRAÍRAS

Deides é veterano no ramo da pesca e aproveitou para dar uma aula aos meninos: �??A Traíra é um peixe extremamente feroz e odeia que seja perturbada. E quando isso acontece ela ataca ferozmente. Para facilitar a pesca  eu bato com a pontada vara na água, simulando o barulho de uma Traíra fisgada. Isso de certa maneira atrai as ferozes, facilitando assim as chances de uma boa pescaria�?�.