São José do Rio Pardo, ,

14/Ago/2021 - 20:24:02

Biomimetismo: quando a ciência imita a natureza

Redação

FERNANDA CUNHA PUOSSO




? fato que a natureza tem muito o que nos ensinar: constantemente, a raça humana encontra inspiração e aprendizado dentro da natureza e de seus fenômenos nas mais diversas áreas do conhecimento. Desde a arquitetura até a medicina, podemos observar múltiplos esforços em se imitar a natureza, e as mais variadas soluções já foram desenvolvidas a partir de tal premissa. O termo utilizado e popularizado neste contexto é biomimetismo: de forma literal, significa "imitação da vida" e consiste em uma área da ciência que vem se destacando imensamente e apresenta enorme crescimento e presença em nosso dia a dia.

De acordo com o Instituto do Biomimetismo, criado em 2006, o termo se refere à uma prática que objetiva aprender com a natureza e imitar suas estratégias para a resolução de problemas humanos, de forma a buscar soluções inovadoras, sustentáveis, eficientes e conscientes. Assim, em sua essência, o biomimetismo consiste em uma ciência multidisciplinar, envolvendo engenharia, biologia, química, arquitetura e outras inúmeras áreas, e não só se baseia em imitar um design ou utilizar da natureza, mas sim em se inspirar, entender seus fenômenos e aprender com ela.

Falando desta forma, talvez o biomimetismo pareça uma ciência extremamente distante de nosso cotidiano, como algo restrito apenas a laboratórios e cientistas, mas a verdade é que estes esforços já são velhos conhecidos nossos e sua presença é até indiscutível. Sabiam que o velcro, tão presente em roupas e nos mais diversos artigos, foi desenvolvido por um engenheiro suíço ao observar como sementes (similares a carrapichos) aderiam às suas roupas?  E sabiam que um trem-bala japonês, entre os mais rápidos do mundo, foi otimizado a partir de estudos anatômicos sobre uma ave-aquática chamada martim-pescador? Dois produtos completamente diferentes desenvolvidos a partir de um mesmo conceito: a observação do nosso ambiente.

Dentro da medicina, podemos observar diversos exemplos de produtos desenvolvidos a partir de observações da natureza, e muitos ainda se destacam no contexto de pandemia que vivemos atualmente. Por exemplo, cientistas têm aprendido com as asas de cigarra sobre formas de fazer com que superfícies impeçam transmissão de doenças: as asas de cigarra apresentam micro agulhas em sua superfície, o que dificulta que vírus e bactérias se estabeleçam e se proliferem ali. Assim, imitando tal característica, cientistas buscam desenvolver superfícies que terão importante ação barrando a transmissão de agentes nocivos.

Outro exemplo semelhante consiste em produtos que imitam a pele de um tubarão: esta apresenta uma textura muito particular que impede que micróbios e outros agentes nocivos se fixem na superfície. Assim, imitando tal textura, podem ser produzidos diversos produtos com tais características, desde tecidos até cateteres. Inclusive, esta mesma tecnologia que imita pele de tubarão foi aplicada com muito sucesso na produção de roupas de natação e mergulho que, devido à mesma textura comentada, possibilitam que a água passe mais rapidamente, sem formar turbulências e, assim, ajudam no desempenho do atleta. Apesar de serem áreas completamente distintas, um mesmo conceito advindo de observações da natureza possibilitou avanços reconhecidos.

Dentro da arquitetura, o aprendizado com a natureza pode não só ser uma solução bonita e funcional, como também sustentável e com relevantes benefícios econômicos, o que é o caso de alguns avanços que surgiram a partir da observação dos montes construídos por cupins. Surpreendentemente, os montes construídos por esses pequenos insetos possibilitam uma troca de gases muito eficiente, apresentando um "sistema de ventilação e resfriamento" natural. Todos nós sabemos o tamanho dos gastos energéticos envolvidos em sistemas de ventilação e, por exemplo, em sistemas de ar-condicionado. Pensando nisto, a possibilidade de construir edifícios com funcionamento similar ao de montes de cupins seria um ganho econômico gigantesco. Foi a partir desta premissa que o prédio Eastgate Centre foi construído no Zimbabue: esta obra arquitetônica inspirada nos mecanismos existentes em montes de cupins, não só é inovadora e econômica, mas também sustentável.

Os exemplos são intermináveis: a observação de como ostras formam corais possibilita estudos interessantes sobre alternativas ao concreto; mecanismos de defesa presentes em plantas viabilizam o desenvolvimento de novos biofungicidas que possibilitam a proteção de plantações; e é claro, um dos exemplos mais conhecidos, a observação do voo dos pássaros possibilitou o desenvolvimento do avião. O biomimetismo, além de proporcionar todas essas inovações e avanços, nos traz também uma importante lição: aprendendo com a natureza, nossa mais antiga engenheira, podemos ir ainda mais longe. 


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