Coragem, capacidade e superação representam o próprio símbolo do nosso inesquecível campeão da Formula 1, Ayrton Senna, que nos deixou em 2 de abril de 1994, para imensa tristeza dos brasileiros. Seu mestre, conselheiro, preparador físico e escritor, o rio-pardense Nuno Cobra, comentou em uma entrevista, sua convivência com Ayrton: "Naquela época, quando o conheci, ele era muito franzino, tinha um coração maravilhoso, perfeito, porém extremamente atrofiado, seu batimento era irregular, muitas vezes, Ayrton, não agüentava o esforço de uma corrida, e chegava a desmaiar após o exercício". 

CORAGEM E PERSIST�?NCIA

Mas, a coragem e a persistência de Ayrton, mais a paciência e a competência do treinador, fizeram com que seus esforços fossem coroados de êxito. Palavras de Nuno: "Infelizmente a nossa sociedade é terrivelmente castradora, os pais, na hora em que o filho erra, retiram a capacidade de restabelecer a coragem e a persistência no bem maior. O erro é apenas uma tentativa de acertar. �? preciso conscientizar a criança que tudo faz parte de um aprendizado, que ele vai chegar lá. O pai tem a chance de equilibrar e de valorizar o filho e seu cérebro. E Ayrton sabia o que ele podia fazer com seus braços, suas mãos, seus pés, sua circulação. E toda essa força e coragem, fez com que superasse suas limitações. Ele acreditava em seu potencial".                           

A PALAVRA MÁGICA DO MESTRE

Uma palavra carregada de energia: "Fazer", era essa a palavra-chave para o Nuno incentivar Ayrton. O cérebro tem um poder inquestionável e a inteligência está dentro dele. O homem não é um animal racional, é um animal emocional. Como disse Nuno: "Com essas cinco letras mágicas: F-A-Z-E-R, você consegue o sucesso, a vitória e a felicidade" Através do esforço físico é que vão ocorrer as transformações emocionais, mentais e espirituais.                                               

O AMIGO E M�?DICO DE AYRTON SENNA

Segundo Sid Watkins, o médico e cirurgião de Senna: �??durante anos uni as paixões da minha vida fazendo parte da equipe médica da Fórmula 1. Ele chegou na equipe médica com fortes cãibras no pescoço e nos ombros. Estava causando um reboliço, até que lhe expliquei, que seu estado não era terminal. Daí, relaxou e conversamos um pouco. No final da temporada de 1984, Senna apresentou outro problema médico mais grave. Um lado do seu rosto ficou totalmente paralisado: não conseguia fechar o olho e a boca ficou repuxada para um lado. Receitei-lhe esteroides e sua rápida recuperação deu inicio a uma relação fraterna que duraria décadas.

SURGE UMA AMIZADE

Senna sempre tivera vontade de ir ao Museu de Jim Clark, em Duns, perto de Edimburgo. Depois de combinarmos com o curador seguimos para Edimburgo numa tarde de 1991 para conhecer o museu. Senna estipulou foi que a visita fosse particular, sem imprensa, sem publicidade e que, além de pessoal do museu, ninguém ficasse sabendo

Naquele dia eu dirigia, quando entramos em Duns, tomei a estrada onde pensava ser o museu, mas hesitei, procurando uma placa.

�?? Lá está ela �?? disse Ayrton.

�?? Onde? �?? indaguei.

�?? No fim da rua �?? disse ele �?? Está escrito "Salão Jim Clark".

Eu não via nem o poste onde estava a placa, quanto mais a placa em si, pois estava a um 100 metros de distância. Uma extraordinária acuidade visual era um dos atributos de Senna. Estou certo que esse é um dos requisitos da Fórmula 1, por exemplo, Jackie Stewart, tinha uma visão notável. Essa habilidade permite que a noção de profundidade e o cálculo da distância sejam tão acurados que as manobras de ultrapassagem em alta velocidade �?? atemorizantes para a pessoa comum �?? possam ser feitas com precisão de computador.

Já no museu, olhamos tudo, Senna concordou gentilmente em ser fotografado assinando o livro de visitante. Mais tarde, nessa noite, voltamos ao aeroporto de Edimburgo, onde o avião de meu amigo nos aguardava.

No caminho ele disse:

�?? Professor, quero que saiba que eu o considero ótimo motorista, muito seguro, mas devo dizer que é muito, muito lento! Na ocasião em que me levou em seu avião a Bolonha, por cortesia perguntei a Senna se gostaria de dirigir o carro que eu alugara. Ele aceitou e logo encontramos uma longa fila dupla de automóveis parados num cruzamento. Sem hesitar, Senna disparou pelo meio da fila, com mais ou menos um centímetro de espaço de cada lado. Quando o sinal abriu ele arrancou antes que algum motorista indignado buzinasse. Fiquei paralisado. Eu havia trincado os dentes com tanta força que, quando chegamos ao hotel, os músculos do meu maxilar ainda estavam doloridos.

A LINDA VIS�?O DE SENNA

Certa vez Ayrton confessou que tivera uma extraordinária visão: "eu corria numa das ultimas voltas, e já antecipava a vitória, pela distância que havia entre eu e os outros concorrentes, daí, comecei a agradecer fervorosamente a Deus, foi quando deslumbrei a mais linda visão que poderia imaginar: era Jesus iluminado por entre as montanhas que margeavam o local".

Senna tinha uma intuição muito aguçada, e sentiu em sua última corrida que algo grave iria lhe acontecer, pelo contrato, era obrigado a participar, se desistisse ocorreria o risco de ser ridicularizado por deixar de concorrer naquela importante competição. Em meio a tantas dúvidas e insegurança, decidiu aventurar-se na fatídica corrida.

"Ayrton Senna não foi só um grande campeão, mas um exemplo de leveza de espírito, capacidade de erguer-se acima de seus desafios, e a vontade de sempre se superar"!  

Muita luz, amor e paz