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30/Out/2021 - 21:31:02
A alta dos preços e materiais
RedaçãoJOÃO OCTÃVIO CAMILLO DE MARTINI
"A impunidade na degradação dos recursos naturais é garantida quase que por uma prevaricação sistêmica assistida e consentida pela sociedade que paga, não leva, adoece e ainda faz graça sobre o assunto". (Mario Moscatelli - biólogo)
Não é novidade para ninguém que o aumento geral dos preços dos principais produtos afetou extremamente a população brasileira. O IPCA (principal indicador da inflação) está beirando os dois dígitos no acumulado dos últimos doze meses. Junto com ele, o IGP-M (Indicie Geral de Preços Mercado) e o INCC (Indicie Nacional da Construção Civil) também acompanharam o movimento, chegando a 31% e 16,7%, respectivamente.
As principais razões já são constantemente comentadas nos jornais: o aumento da demanda da China, ciclo de juros baixos (em 2020) e injeção monetária ao redor do mundo para minimizar os efeitos da pandemia. A alta das commodities também afeta a pressão nos preços, e infelizmente de uma forma sistêmica, sem que o consumidor perceba no supermercado.
Primeiramente, o petróleo, o ouro moderno. Além de impactar diretamente com o aumento dos combustíveis, interfere em toda a cadeia de logística, distribuição e transporte. Outros derivados do petróleo também sofrem muito, como o gás de cozinha (GLP - gás liquefeito do petróleo) e a nafta, ingrediente fundamental para a sintetização de diversos polímeros (plásticos, elastômeros).
Durante o ano de 2020, quando a pandemia afetava fortemente a cadeia produtiva, alguns materiais não tiveram a mesma demanda. Com a retomada da atividade comercial e industrial, a oferta não era suficiente para abastecer esses mercados. Embalagens de comida, peças de plástico descartáveis, materiais médicos e demais produtos começaram a ficar escassos, aumentando seu valor.
Além de commodities alimentícias (trigo, carne, soja, milho) que sofreram pressão nos preços tanto pela retomada como pelo aumento do dólar, produtos básicos para diversos setores também ficaram mais caros. Entre eles, o minério de ferro, essencial para produção de aço, e a celulose, muito presente em embalagens e produtos comerciais.
Outros metais essenciais também sofrerão aumento de preços, desde o alumínio, muito utilizado na indústria e na construção, até os metais utilizados em circuitos e chips eletrônicos, como cobre, níquel e materiais semicondutores, prejudicando a forte indústria eletrônica, hoje presente em quase todos os itens. Mesmo mais distantes do consumidor, esses insumos são essenciais em toda a cadeia produtiva, o que faz com que o preço de demais serviços e setores mais próximos do nosso cotidiano sejam impactados.
Para tentar contornar o aumento dos preços, surgiram diversas iniciativas que buscaram reaproveitar esses produtos e reinseri-los na cadeia de produção, através da logística reversa. Startups estão surgindo para garantir que cooperativas que trabalham com coleta de resíduos tenham o contato necessário com instituições e empresas que possam tratar os resíduos de maneira adequada e utilizá-los em sua produção, fazendo com que a atividade seja social e ambientalmente responsável, além de lucrativa para os dois lados.
O principal desafio é a reciclabilidade dos resíduos. Embora papel e plásticos sejam, em sua maioria, recicláveis, a reciclagem desses itens é limitada por conta de contaminação, cor e demais fatores, como embalagens com filmes de alumínio, utilizadas para proteger alimentos, como em embalagens TetraPak, de chocolate e café. No Brasil, apenas 4% do que poderia ser reciclado de fato cumpre esse destino.
Como o despejo desses resíduos geralmente é inadequado, garantir que eles possam ser aproveitados de outra forma é crucial. Além do mais, nem todo processo de reciclagem é barato e sustentável, já que alguns plásticos demandam mais energia para serem processados por uma segunda vez.
A pandemia afetou a vida da população mundial de forma drástica, seja com a ação do vírus ou com os impactos na economia, sendo que no Brasil os efeitos foram ainda maiores. Reflexos e consequências continuarão afetando fortemente nossas vidas, o que exigirá que novas soluções sejam desenvolvidas para minimizar esses impactos em nosso país.