São José do Rio Pardo, ,

04/Dez/2021 - 08:30:13

Nióbio: o que nos impede de explorar esse recurso?

Redação

JOÃO O. CAMILLO DE MARTINI




Quando o assunto é metal, logo pensamos em aço, ferro, alumínio, ouro e outras preciosidades. ? fácil deixar passar tantos outros elementos que nos rondam, como sódio, cálcio, magnésio, níquel etc. Dos mais de 100 símbolos da famosa tabela periódica, cerca de 70% são metais. E um deles se destacou alguns anos atrás.
O nióbio foi uma das bandeiras na campanha do presidente Jair Bolsonaro, que buscava trazer um ar mais tecnológico e científico em sua corrida eleitoral. O metal, do qual o Brasil detém 98% dos depósitos, passou a ser cogitado como um herói capaz de colocar o país no eixo da inovação. Mas teria um elemento tão discreto na tabela periódica tal potencial?
As principais jazidas nacionais estão em Araxá (MG), operada pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), e em Catalão (GO), administrada por uma subsidiária da mineradora chienesa Molybdenum. Juntas, as duas representam 82% do nióbio vendido no mundo, cerca de 120 mil toneladas por ano. O beneficiamento do minério é complexo, envolvendo etapas que aumentam a concentração do metal e retiram os elementos indesejados. Mas com o metal puro em mãos, o que podemos fazer?
Do total produzido, 90% é transformado em uma liga ferronióbio, aplicada em aços, aumentando sua resistência sem reduzir sua tenacidade (um material tenaz consegue absorver grande quantidade de energia antes de fraturar). Melhorar propriedades de um material sem prejudicar outras é o desejo de qualquer indústria. As aplicações são corriqueiras e até simples, mas geram um grande impacto. No setor automotivo, as carrocerias ficariam mais leves, o que aumentaria a eficiência dos veículos. A utilização atual mais comum é em oleodutos e gasodutos, permitindo que esses tenham sua espessura reduzida pela metade.
O nióbio, na sua forma de óxido (Nb2O5), é empregado em aplicações de alto valor tecnológico, como lentes de telescópios e baterias de carros elétricos. No ramo aeroespacial, superligas de níquel com nióbio são utilizadas em motores e turbinas, setores que demandam resistência em altas temperaturas. Aparelhos de ressonância magnética e tomógrafos utilizam do metal em sua forma mais pura, que é supercondutora e resistente à corrosão.
E o que limita prosperidade econômica? Primeiro, não é de interesse de nenhum país ou empresa criar uma enorme dependência de um único fornecedor, ao passo que sempre haverá materiais que podem ser usados como substitutos, mesmo sem apresentar propriedades tão excepcionais. As aplicações do nióbio são restritas a mercados pequenos, muitos ainda em processo de desenvolvimento ou que não demandam tantos recursos. Esse dilema não é exclusivo do nióbio. O grafeno, por exemplo, também está na mesma situação.
Para suprir o desinteresse de outras nações em investir na pesquisa de novas aplicações do nióbio, a CBMM investe cerca de R$ 150 milhões por ano em pesquisa intensiva, em parcerias com universidades do Japão, Inglaterra e as brasileiras USP-Lorena, UFMG, UFSCar, UFOP e UFV. Destaca-se desenvolvimentos na criação de próteses ortopédicas, uma parceria que envolve a Associação de Assistência à Criança Deficiente de São Paulo e a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A importância desses projetos é inquestionável, o fomento a essas iniciativas é capaz de trazer melhorias além do campo econômico e acadêmico, aproximando o desenvolvimento científico da sociedade.
O nióbio é claramente um metal com propriedades de destaque, mas não se pode deixar levar pelo mesmo pensamento que arruinou os maiores exportadores de petróleo, como Iraque, Venezuela e México que tiveram suas instituições governamentais enfraquecidas. Ter grandes reservas não é a chave para a prosperidade, e sim um requisito secundário. ? preciso impulsionar a pesquisa brasileira com ferramentas que permitam seu desenvolvimento e garantam seu devido reconhecimento, para com os pés no chão, começarmos a pensar em cifrar.


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