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15/Jan/2022 - 21:53:38
Distopia da beleza: o padrão é se pertencer
RedaçãoSHELDA COLPANI
Se por muitos séculos as pessoas foram levadas a acreditar que seus corpos não lhes pertenciam, hoje, após um longo período de puritanismo, o ser humano é coagido a refletir que o corpo é o objeto central da existência e do sucesso.
Cinco minutos em quaisquer redes sociais, desde os mais consagrados veículos de comunicação até os mais clichês, é mais do que o suficiente para um bombardeio indiscriminado de imagens eloquentes, as quais exibem corpos imaginários, todos com simetrias perfeitas. Magra, alta, gorda, branca, baixa, negra, cabelos longos ou curtos? Qual é a padronização exigida atualmente? E por qual motivo exige-se um padrão?
O que se visualiza atualmente é que a mídia segue fazendo o seu papel impositor de "padrões simétricos", com um discurso infundado no avanço tecnológico e na pluralidade de produtos, com o intuito misógino de aprimorar a estética e valorizar serviços direcionados aos cuidados com a saúde. Todavia, o que ocorre de fato é um desconexo diálogo entre a prudência com o corpo e a hipervalorização e exposição de formas físicas oriundas de uma construção utópica.
A perda de peso, o ganho de massa, a ausência de flacidez e celulites, bem como a habitualidade de dietas milagrosas, suplementos e procedimentos estéticos a cada dia mais especializados, apresentam total respaldo da indústria da beleza, a qual incentiva de forma desenfreada que os corpos exibidos em conteúdos midiáticos são espelhos de uma realidade plausível de ser alcançada. Contemplando tal falácia, ainda há o compartilhamento diário de novas formas de tecnologias capazes de promoverem uma rápida e satisfatória perda de peso e ganho de massa.
A mídia, em qualquer de suas formas, vende, junto com os seus corpos esculpidos, a ideia de agregação de poder, honra e beleza aos que alcançam o topo da escala padronizada imposta pela sociedade.
Lembrem-se leitores, há uma linha tênue entre bem estar e obsessão. Podemos e devemos cultuar a ideia de que homens e mulheres possuem a liberdade de encontrar em si a beleza que cada um possui sem que estejam atrelados a moldes de perfeição que, como se sabe, não existem.
Que neste verão a única meta seja se sentir bem. O único padrão seja ser feliz e se aceitar.
Bebam água e se desliguem mais das redes sociais. Felizmente, seus corpos lhes pertencem.