São José do Rio Pardo, ,

16/Mai/2020 - 19:59:18

E a pandemia... continua

Maria Esméria do Amaral Mesquita




Na edição da semana passada, por conta do Dia das Mães, recebi uma homenagem do jornal ??Gazeta do Rio Pardo?, com uma foto e um lindo poema de Carlos Drummond de Andrade. Senti o carinho de que vinha carregada e uma gratidão muito grande, agradeço de todo coração. Fico meio sem jeito porque sei que não mereço homenagem; vocês me veem com tão bons olhos e deixam de lado os "poréns" que são tantos; estou pelejando por superá-los enquanto Deus está tendo paciência comigo.

Na véspera do dia das Mães a Maria veio de são Paulo para almoçar comigo. Daquele jeitinho dela, com um monte cuidado para não trazer nenhuma sementinha do vírus de lá; trocou o tênis antes de descer do carro, ficou só no terraço, mantendo aquela distância, comeu numa mesinha só dela. O Chico e a Lígia também vieram almoçar na minha casa e ficamos só no terraço, com bastante ar e sol também. Foi uma grande alegria, embora com gostinho de quero mais.

No domingo, com o marido, a ministra da Sagrada Comunhão levou a Eucaristia para minha casa e com mais dois vizinhos participamos pelo Facebook da missa celebrada pela Padre Lu e, na hora da Comunhão, comungamos. Dei muitas graças a Deus. Mais tarde um pouco eu soube, com tristeza, do Falecimento da minha amiga, Maria Luíza Pinheiro; ela entrou no colégio em que estudei na segunda série e terminamos juntas o ginásio oito anos depois. Hoje é o Sétimo Dia, pedi intenção por ela na missa. Meu plano para o domingo era passar o dia todo em casa, - com meu Anjo da Guarda -, mas, o João Neto tentou-me: "Vó, vem um pouco aqui na casa da mamãe, a Bernadete, ver os seus bisnetinos"; sucumbi à tentação; fui, e nem me arrependi, muito pelo contrário. Cinco crianças, três meninos e duas meninas, todos encantadores, espertíssimos, entre seis e dois anos, curtindo, por conta da quarentena, uma "colônia de férias" na casa da vovó! Que folia fenomenal! A Berná, já quase meiando os sessenta está dando conta de um recado incrível com a maior classe.

No dia 12, minha sobrinha Ana Lúcia, filha da Marina, irmã mais velha do João, completou 60 anos; mandei pelo Whatsapp meus votos de felicidades; ela respondeu agradecendo e enviou-me o poema "No fundo do poço" composto por Odilon Ramos. Gostei muito, e vou transcrevê-lo para você em seguida.

 

Desde os tempos de criança eu sempre achava um colosso puxar com a corda o balde cheio da água do poço.

Eu, guri pensador, desde então já questionava como do fundo tão escuro, água tão clara brotava.

Eu era um piá curioso que até esticava o pescoço tentando ver o que tinha naquele fundo de poço

E veio um tempo de seca em que tudo ia mermando, até que num dia triste a minha família viu:

O balde desceu o poço e voltou vazio.

Calamidade, desgraça, lágrimas sentidas.

Patrão do Céu manda água, pois sem água não tem vida. Mas é que Deus decidira me mostrar, quando já moço, o que se pode aprender chegando ao fundo do poço.

Na mesma corda do balde que tantas vezes desceu, cheio de medo e cuidado, desta vez desci eu.

Com a luz duma velinha, cavando no lodo imundo, fui aos poucos achando o que havia lá no fundo.

Tinha uma tesoura velha que a irmã havia perdido e era de cortar o umbigo de cada recém-nascido.

Tinha um bodoque que a mãe jogara lá por carinho, pois não queira ver a gente maltratando passarinho.

Um balde velho, que a corda rebentou e ele caiu.

Um brinco, não sei de quem e um isqueiro de pavio. Até um trabuco velho, este causou sensação porquê de sua existência ninguém tinha informação. Ouvia dos lá de cima a algazarra e o alvoroço a cada carga que o balde levava ao subir o poço.

Depois, com a pá e a enxada, numa missão dolorida, tirei do fundo do poço todo o lodo de uma vida. Quando já quase findava tarefa tão cansativa, eu vi, como por milagre, brotar do chão água viva.

Ao ouvir vozes que diziam: isso é o fundo do poço, lembro que nem eu sabia que era capaz de tanto esforço.

Quem sabe a gente se une, com fé, humildade e grandeza, e já que estamos no fundo, fazemos uma limpeza.

Há muito caco escondido no meio do lamaçal, que para ser retirado requer trabalho braçal.

 

E ASSIM, DO FUNDO DO PO?O VAI BROTAR UM BRASIL NOVO, SACIANDO DE ESPERAN?AS A ALMA DO NOSSO POVO.

 


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